quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Casal em trânsito

—Xi, acabou de passar.
—Como assim?
—Era para ter entrado ali.
—E você só me avisa agora, Maria Alice?
—Desculpe, estava retocando a maquiagem.
—Tudo bem, eu é que deveria estar de co-maquiador. Vou pegar a próxima paralela e voltar.
—Como assim, paralela, Arnaldo Augusto? Estamos em São Paulo. Se você pegar a paralela, vai cair em outro bairro, quiçá outra dimensão.
—Alguma sugestão?
—Melhor parar e perguntar.
—Eu?! Pedir informação na rua?! Nem pensar.
—Tudo bem, podemos continuar rodando a noite toda. O jantar já deve estar sendo servido. A Maria Clara é muito pontual.
—Já sei, vou pegar a Marginal.
—A essa hora, no fim do ano? Vai estar parada.
—Eu pego a pista expressa.
—Arnaldo, só você acredita nesse nome, "pista expressa". Você também deve acreditar que todo carro com aquele adesivo "reportagem" em letras garrafais é realmente de alguma TV ou jornal.
—E não são?!
—Eu não entendo por que todo mundo xinga tanto a Marginal, mas corre para ela sempre que algo dá errado. Parece taxista, que pega a Marginal até para cruzar a Paulista.
—Eu devia mesmo era ter comprado um táxi. O carro já é branco, todo mundo faz sinal na rua. Pelo menos, poderíamos usar o corredor de ônibus quando estivéssemos juntos.
—É verdade, e você ainda poderia fazer uns bicos na volta de casa para o trabalho...
—Bem, isso explicaria por que tem tanto táxi em São Paulo.
—É. Vai ver, esse pessoal todo trabalha no banco, junto com você, Arnaldo. Pelo menos, não estamos no Rio, você não vai precisar ter um carro amarelo com uma faixa azul do lado.
—Taxista conta cada história, Maria Alice...
—O quê? Que pegou uma passageira linda que não tinha dinheiro para pagar a corrida?
—Você já pegou esse táxi, Maria Alice?!
—Todo taxista conta essa história, Arnaldo! Eles são tipo pescadores, no que se refere à criatividade.
—É verdade. Senão, todo mundo ia querer ser taxista. Nenhum garoto mais ia querer ser bombeiro, super—herói, Eike Batista...
—Já passou das dez, Arnaldo. Você sabe para onde estamos indo? Tem certeza que precisa pegar a Dutra para chegar na casa da Maria Clara e do César Augusto?
—É, acho que vamos ter que desistir. Será que, se voltar para casa ainda dá para assistir o segundo tempo do jogo?
—Alô! Maria Clara? Querida, o Arnaldo tá com uma gripe danada, não vamos conseguir sair de casa...

Outras conversas:
Diálogos que adoraríamos ver na TV
Dias (ou Noites) Modernos(as)
Papo Masculino
A seguir, cenas dos próximos capítulos
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