quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Manchetes de Carnaval

Atendendo a pedidos, algumas manchetes que estarão nos jornais e sites, e frases que serão ditas por narradores e repórteres de TV, nos próximos dez dias, para você não precisar (mesmo) ler jornal, ou ligar a televisão, no período:

"[Nome da escola de samba] enche avenida de cor e alegria"
"O Carnaval na Bahia já começou há uma [semana, lua, década]!"
"Olha a Mangueira entrando aí!"
"O bloco [nome do bloco] arrasta a multidão pela Zona Sul do Rio!"
"Nem mesmo o sol quente (!) desanimou esse grupo de [jovens, velhos, vesgos] que veio de [Guaxupé, Asa Branca, ou qualquer nome de cidade que pareça pitoresco na TV]!"
"[Escola de samba] levanta a avenida"
"Dez! Nota dez!"
"São foliões de todas as idades no [nome do bloco]!"
"Estamos aqui com a Viviane Araújo no desfile da [QUALQUER escola de samba] em São Paulo..."
"Centenas de blocos animam os foliões pelas ruas do Rio"
"Todo mundo com o samba-enredo na ponta da língua."
"Essa bateria do mestre [nome]zinho é mesmo um arraso!"
"E [nome da fulana terminado em "e"] mostra o samba no pé!"
"É folia que não tem hora para acabar!"
"Doações de sangue despencam durante o Carnaval"
"Mas a música do carnaval aqui é o frevo!" (Como se alguém achasse que samba ou axé fossem os ritmos de Olinda e Recife.)
"A grande expectativa é pelos desfiles deste(a) [sexta, sábado, domingo, apuração de quarta-feira]!"
"Qual é a emoção de entrar na avenida?"
"E o coração tá preparado?"
"Como repor as energias nesses dias de folia?"
"Samba pra gente, [fulana, sicrana]!"
"Olha a paradinha da bateria!"
"Sorriso no rosto da comunidade depois de um ano de trabalho!"
"Estamos aqui com a Viviane Araújo no desfile da [QUALQUER escola de samba] no Rio..."
"Nossa repórter está no camarote da cervejaria (que todo mundo sabe o nome) e falou com a [ex-namorada de jogador de futebol, ex-BBB, atualmente moradora da fazenda só]."
"[Escola de samba] é Estandarte de Ouro"
"Carnaval não tem idade!" (Mostra criança fantasiada.)
"Essa é a homenagem da [escola de samba] ao [artista, político, desocupado, estado patrocinador]!"
"E a festa não acaba na Quarta-Feira de Cinzas!"
"Prefeito entrega a chave da cidade para o Rei Momo" (Por acaso, alguém já viu o Rei Momo devolver a chave na Quarta-Feira de Cinzas? Depois, reclamam da falta de segurança da cidade.)
"Esse é o charme da rainha de bateria da [escola de samba]!"
"O grande sucesso deste Carnaval foi mesmo..." (Mostra povo dançando Michel Teló.)
"E a emoção da torcida na quadra, acompanhando ponto a ponto!"
"O Galo da Madrugada abre oficialmente o Carnaval em Recife!"
"E você? Já beijou muito?"
"Quem disse que não tem Carnaval em [qualquer cidade que todo mundo sabe que tem carnaval]?"
"[Nome de ex-BBB ou jogador de futebol] mostra que também é bom de passarela!"
"Depois de dias de alegria e descanso, caos nos aeroportos"
"Engarrafamento recorde dificulta volta do paulistano para casa"

Outros posts carnavalescos:
Enredos para 2013
Manifesto Carnavalesco Paulistano

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Jornalismo, ano 2035
Ser jornalista de economia é...
Como jornais, sites, revistas e a TV noticiarão o fim do mundo
Beijinho no Chefe ("Beijinho no Ombro" para jornalistas)
Pautas para a Jornada Mundial da Juventude
Jornalismo como ele é
Máximas e mínimas do jornalismo
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"Eu sou feliz sendo jornalista"
Dia de Jornalista
Finados jornalísticos
Manchetes de Carnaval
Capas de fim de ano: o que querem realmente dizer
Ai se eu escrevo: Michel Teló para Jornalistas
Diálogos que adoraríamos ver na TV
Jornalista de Novela

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Manifesto Carnavalesco Paulistano 2014


Sim, você leu certo: eu estou falando do carnaval paulistano, mais precisamente do carnaval de rua de São Paulo. Os bloquinhos pipocam, a cada ano mais intensamente, aqui e ali, alguns já lotados como tudo em SP, talvez em resposta justamente ao já irrespirável carnaval de rua do Rio, destino de 12 entre dez paulistanos que gostam de carnaval nos últimos dez anos. Aos poucos, a profecia deste blog começa a se cumprir. O ideal seria que as coisas ficassem como estão hoje, civilizadas, mas isso é improvável, conhecendo SP e as proporções que tudo na cidade toma. Alguém, um dia, já deve ter achado o trânsito paulistano agradável, e sabemos que planejamento não é coisa nossa. Mas, ao que tudo indica, o carnaval de rua de SP vai bombar, como, aliás, os cariocas esperam que ocorra com todo o país, já que também não dá para torcer para o axé-pagode vingar como estilo de música (?) oficial do carnaval e mandar todo mundo para Salvador. Contudo, a identidade de uma cidade tão cheia de personalidade não se converte assim tão fácil. E, como carnaval é época de repetir as coisas (como a fantasia e as mesmas músicas dos últimos 60 anos), eis aqui novamente uma lista de coisas que fazem o carnaval paulistano especial e suas vantagens (ou não) em relação ao carnaval carioca:

1. Tal como no Rio, o sotaque paulistano predomina entre o público do bloco.
2. Os homens usam camisa. (A contrapartida é que as mulheres não estão só de biquíni.)
3. Alguns estão até de camisa polo, coisa que só em São Paulo é possível durante o carnaval. (Afinal, não era para sair com uma roupa mais à vontade do que a usual?) O pior é descobrir que o sujeito de camisa polo pode ser carioca (muitos aproveitam para sair do armário e se assumir "coxinhas" quando se mudam para SP).
4. Agora, se o indivíduo estiver de camisa social (ainda que aberta e com uma camiseta por baixo para dar aquele "ar despojado"), com certeza, é paulistano.
5. Os pitboys ainda não aprenderam a chegar a São Paulo.
6. Paulistano é pontual, chega cedo no bloco, no horário divulgado (se o trânsito deixar), pois não tem tempo a perder.
7. As mulheres estão maquiadas, sem que isso faça parte necessariamente de uma fantasia
8. Hino do Flamengo vira marchinha.
9. Não toca axé, nem "forró universitário", no meio do bloco.
10. Você pode encontrar a Pitty no meio do bloco.
11. É possível chegar perto do carro de som e circular pelo bloco sem pegar uma doença transmitida pela pele. Eu mesmo andei mais de 15 metros sem encostar em ninguém. Afinal, a maior parte das pessoas que moram em São Paulo e gostam de Carnaval ainda está no Rio ou em Salvador. (E, mesmo assim, sobra gente suficiente para montar vários blocos.)
12. Não é necessário contratar carro-pipa para jogar água na galera. Sempre vai chover no meio do bloco. Umas três vezes. Ou uma só, que vai durar o bloco inteiro.
13. Ninguém estranha ouvir o sotaque carioca no meio do bloco.
14. Acaba com aquela cantada/abordagem idiota do "você veio de São Paulo?".
15. A fila do banheiro dos homens é maior do que a das mulheres (não é exatamente uma vantagem, mas mostra que, ao menos por enquanto, mesmo os cariocas ainda têm alguma vergonha de urinar na rua em São Paulo).
16. Você pode encontrar aquele amigo de infância do Rio no meio do bloco.
17. É o único lugar do mundo onde você vai ouvir "vai, Curíntia!" no meio do Carnaval.
18. Paulistano já está acostumado a ficar parado no trânsito. O engarrafamento enquanto se espera o bloco passar, ou enquanto se tenta chegar até ele, não vai fazer muita diferença. Só não se assuste se você for o(a) único(a) idiota de fantasia no busão.
19. Não tem aquela quantidade absurda de vendedores ambulantes. (Tá. Em algum momento, você vai reclamar disso, pois vai ter que cruzar o bloco para comprar bebida e não vai achar aquela Itaipava a R$ 3 "na promoção".)
20. As chances são maiores de a cerveja estar gelada, já que não faz os 57 graus à sombra (há sombra?) dos blocos do Rio e (ainda) tem menos gente.
21. Apesar de cair água do céu copiosamente todos os dias nessa época do ano, as pessoas ainda se surpreendem e procuram abrigo da chuva nos lugares menos espaçosos. (Se o bloco estiver começando, claro. Depois, ninguém dá mais a mínima para ela.)

O gigante acordou: 2014 é o ano da virada paulistana.

22. As pessoas levam guarda-chuva e não é para dançar frevo.
23. As chances são maiores de a cerveja não estar "choca". Como não tem bloco todo dia, o cara não vai guardar a cerveja desgelada para o dia seguinte. (E vai acabar mesmo, pois, afinal, em São Paulo tudo fica cheio de gente.)
24. Tem japonês (e japonesa) sambando. (Possivelmente, é ele que vai estar de camisa social.)
25. Os batedores de carteiras ainda não descobriram o Carnaval de São Paulo.
26. As pseudo-celebridades também não. Então, não existem aqueles cercadinhos para escolhidos. Ainda.
27. Você consegue ouvir a música.
28. O cara vestido de mulher realmente quer dizer isso. As duas mulheres se beijando também. (Não, elas não querem só chamar sua atenção, bonitão.)
29. Tem fila para comprar cerveja. E as pessoas respeitam. (Paulistano adora fila. Claro que, se você for carioca mesmo, sempre vai dar um jeito de passar na frente.)
30. Paulistano leva Carnaval (e tudo) muito a sério: vai de carro e tênis, e os seguranças do bloco chegam a usar terno. Sério. (Pense bem: firma de segurança em SP presta serviço para empresas, casas de show ou edifícios comerciais e residenciais grandes, lugares onde se espera que haja ar-condicionado.)
31. Você não corre risco de ter uma insolação.
32. Você não tem trabalho para decorar a marchinha "deste ano". É sempre a mesma todos os anos.
33. As pessoas ainda acham graça quando você grita "toca Raul!".
34. As músicas, fora a eventual marchinha oficial, são as mesmas do Rio. Alguns blocos também. No mais, você tira onda de local cantando "Trem das Onze". E ainda pode conhecer alguém que de fato saiba onde fica o Jaçanã. (Sim, o bairro, na verdade um distrito, existe.)
35. Os banheiros químicos dão conta da demanda. Ainda.
36. Você pode parecer original no Facebook.
37. Como São Paulo não tem praia, o bloco vira uma alternativa para você não precisar passar os cinco dias de Momo comendo (e entendendo por que ele ficou daquele tamanho) e assistindo pela TV o carnaval da Bahia, de Recife e do Rio, além da reprise-compacta-versão-melhores-momentos-agora-com-a-letra-e-sem-nudez do desfile das escolas de samba, com os comentários sempre pertinentes do Luís Roberto e do Cléber Machado, e os "big brothers" na Sapucaí. (Ah, sim, e você também evita o Faustão e a Ana Maria Braga.)
38. Hmmmmmm... Pensando bem, até que dá para passar um Monobloco ali na Marginal Pinheiros, ou um Simpatia ali no Minhocão, hein? No mais, não espalha, mas a Vila Madalena é a cara do carnaval de rua da zona sul carioca.
39. E, por fim, quando a folia acaba, você não precisa pegar a Ponte Aérea, enfrentar os aeroportos brasileiros, a Dutra ou viajar de ressaca.
40. Se, depois de toda essa embasada argumentação, você ainda não tiver sido convencido a ir para o bloco paulistano, dá para entender: o carnaval de São Paulo é ótimo também para quem odeia Carnaval. Se você tem mais de 30 e espírito de 70, como um típico morador da cidade, o melhor desse período é a tranquilidade que fica nas ruas, e a inacreditável ausência de engarrafamento, durante os dias de carnaval propriamente ditos. Só São Paulo para te fazer valorizar uma coisa dessas. Aliás, a capital paulista deve reunir a maior concentração de gente que odeia carnaval. E também a maior quantidade de gente que adora. São Paulo reúne a maior concentração de qualquer coisa.

Esse post é sobre o carnaval de rua de São Paulo. Para as escolas de samba, não tem jeito mesmo, elas não têm nada a ver com carnaval. A prova disso é a confusão que os paulistanos fazem entre agremiações e torcidas de futebol. Pior: torcidas organizadas, praga que não deveria existir nem no esporte, do jeito como funcionam hoje. A única justificativa para o desfile oficial ainda existir em SP deve ser o apego que o paulistano tem com o engarrafamento, para ficar parado por horas na Marginal Tietê antes de chegar ao Anhembi. É o mesmo e verdadeiro motivo que leva o morador de São Paulo a pegar a estrada no carnaval.

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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Notas de um Divórcio

Foto da nossa festa de casamento
Começamos nossa vida em conjunto com uma grande festa. Até as pessoas na rua pareciam comemorar felizes pela nossa união. Mal sabia eu das responsabilidades que viriam. Todos acharam que eu teria o poder de transformá-lo, tirar você da vida de malandragem e sem rumo. Eu não me importava com os seus problemas de saúde ou de locomoção, sua falta de educação e sua pobreza. Você também parecia não se incomodar com o fato de eu ser tão controladora e exigente. Você sabia que ia ter que trabalhar duro e gastar muito para me agradar.

Tivemos alguns anos de convivência tranquila, sonhando com o futuro, lugar do espaço-tempo em que tudo funcionaria e todos seriam infinitamente felizes. Essa serenidade durou até todos perceberem que você continuava o mesmo falastrão de sempre, e que eu, sozinha, não teria poder para transformar tanto você, um fanfarrão histórico, em tão pouco tempo. Só hoje percebo que a felicidade com a nossa união, por parte das pessoas que gostam de você, era também porque estavam interessadas no que eu iria deixar depois que fosse embora, a minha herança, ou, como virou moda falar, o tal "legado".

Mesmo quem comemorou nossa felicidade por estarmos juntos hoje implora pela nossa separação, pois se dizem decepcionados comigo por eu não ter transformado você em outro, ou porque você passou a dar ainda menos atenção a eles. Eu não tenho culpa das tantas promessas que você fez (em meu nome, diga-se de passagem). Você também me prometeu mundos e fundos, não entregou e sei que nunca vai entregar. Pelo menos, eu não faço barraco na rua, como esse povo...

Com a certeza de que nosso relacionamento está chegando ao fim, te desejo sorte no futuro. Você vai precisar, Brasil.

Sinceramente,
Copa do Mundo

PS: Não vou brigar pela guarda do Fuleco. Pode ficar com ele, e até mudar seu nome para um mais adequado às suas origens, como o seu pessoal sempre quis.

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