terça-feira, 30 de setembro de 2014

Caetano responde Levy Fidelix



Outros posts sobre homofobia:
Projeto de Lei para a Cura da Homofobia
Motivos para ser contra o casamento homofóbico

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Jornalista de Novela

Essa tal de "Império" está tão boa, que vale a pena atualizar um post antigo...

A cada novela que passa, fica mais clara a separação, quiçá rivalidade, que existe entre a Central Globo de Jornalismo e a Central Globo de Produção, que cuida da teledramaturgia da casa. Jornalistas já foram muito bem representados na ficção da TV brasileira, a ponto de podermos responsabilizar algumas novelas por nossas péssimas escolhas profissionais, mas essa relação só fez piorar ao longo dos anos. Em ordem (espero eu) cronológica, veja como foi essa evolução (?), que acabou desembarcando numa nova categoria profissional: o "jornalista de novela".

Neco Pedreira: Jornalista petralha, esquerdinha e comunista de O Bem-Amado (1973), interpretado por Carlos Eduardo Dolabella, que adorava espalhar uns "caluniamentos" em sua gazeta "marronzista" e "desigiênica", A Trombeta, contra o grande líder Odorico Paraguaçu, numa época em que donos de jornais eram também jornalistas e exerciam a função (ou seja, trabalhavam). Neco é dono do jornal local da esquerda caviar de Sucupira, chamado A Trombeta. Parece ser também o único funcionário do veículo, provável consequência de algum passaralho. A verossimilhança do papel fica comprometida pelo fato de ele ser também o galã da novela, dotado de beleza física, portanto. Mais próximo da relação promíscua que existe entre jornais e políticos na vida real, fica noivo da filha do prefeito corrupto, união que deu origem a Dado Dolabella.

Há registros de que Neco Pedreira foi representado no cinema, em 2010, por Caio Blat, mas não trabalhamos com refilmagens. De qualquer forma, decidi colocar uma foto dele aqui só para chamar audiência.

Waldomiro Pena: Último jornalista romântico da TV, da época em que ainda se fumava nas redações, deu plantão na Folha Popular, do Plantão de Polícia (1979-1981), experiência que renderia a Hugo Carvana outros ótimos papéis como o melhor jornalista de novelas e seriados, ajudado pela sua experiência em retratar pobre, malandro, seu indefectível bigode e o cabelo sempre desarrumado, características coerentes com a vaidade dos jornalistas de redação. Primeira empreitada do então jornalista Aguinaldo Silva na TV, onde descobriu que a profissão era mais interessante na ficção. Por isso, mantém sempre uma cota para a categoria em seus folhetins e, assim, ajuda a manter a empregabilidade dos seus ex-coleguinhas.

Perceba o quão futurista é o letreiro por trás dela.
Amélia Bicudo: Estreia de Cissa Guimarães como repórter de TV, no Jornal do Amanhã, de Um Sonho a Mais (1985), a novela com uma das aberturas mais legais que a Globo já teve. Sua missão era investigar o passado e o presente do personagem vivido por Ney Latorraca, o Volpone, o cara que vivia dentro de uma bolha (imagem que não me sai da cabeça até hoje) e tinha um dos melhores nomes de personagem que uma novela já teve. (Já pensou, colocar numa criança o nome de "Volpone"?) Como a "sinergia" e a contenção de gastos sempre foram questões importantes no jornalismo, Amélia, que era mulher de verdade, era também apresentadora, repórter e produtora das próprias matérias, já que os tempos eram bicudos (sacou?) e era ela mesma quem apurava suas reportagens, veja só, coisa inimaginável para algumas estrelas do telejornalismo real, que chegam para gravar a "passagem" já com tudo preparado. Cissa foi tão bem como jornalista, que inspirou alguns quadros do TV Pirata (1988-1990 e 1992). Ah, sim, e passou anos como repórter do Vídeo Show, house organ para promoção dos programas da Globo, na época em que o Miguel Falabella era apresentador.

Zelda Scott: Quem não se lembra de Zelda Scott, do maravilhoso mundo da Armação Ilimitada nos espontâneos e politicamente incorretos anos 1980? (Mais precisamente, 1985-1988.) Certamente, muitas meninas escolheram a profissão por culpa dela, que vivia um triângulo sexual e amoroso com dois bonitões (da época), era independente, solteira, participava de aventuras radicais e sempre estava envolvida em coberturas interessantíssimas (e nunca publicadas) para o Correio do Crepúsculo. Não há registros de Zelda Scott ter feito sequer um plantão de fim de semana na vida, apesar do seu bravo e multifacetado Chefe, até porque o programa passava às sextas-feiras, o que, aliás, a deixava sempre no pescoção.

Chefe da Zelda: Esse, com certeza inspirou muitos chefes e pessoas com pretensões de subir mais alto na hierarquia que estão hoje por aí. Afinal, era a melhor referência da profissão que se tinha inspirada na TV dos anos 1980 para quem não tinha coordenação motora suficiente para ser um Juba ou um Lula e viver de esportes radicais tradicionais (não que o jornalismo tradicional seja menos arriscado). Trocava tanto de roupa nos episódios, que aquelas fantasias só podiam ser jabá. Interpretado pelo fantástico (e saudoso) Francisco Milani.

Solange Duprat: Produtora de moda da revista Tomorrow, de Vale Tudo (1988-1989). Mocinha. Só se ferrava. Já era um aviso para quem achava que a vida de jornalista era boa. Não à toa, sumiu do mapa das novelas depois que Maria de Fátima aprontou todas com a sua personagem. Sua grande chance de subir de vida foi namorando e casando com o herdeiro rico da novela, o Cássio Gabus Mendes, com quem está até hoje.

Paulinha (Paula Ramos): Repórter iniciante representada por Cláudia Ohana em Rainha da Sucata (1990), talvez tenha sido uma das responsáveis por jornalistas serem confundidos com paparazzi, que era o estilo dela na perseguição à personagem de Regina Duarte. Deve ter inspirado muitas meninas, já que pegava o bonitão Tony Ramos ao longo do folhetim.

Doutor Praxedes: Purista e defensor da língua portuguesa em Fera Ferida (1993-1994), o "Doutor Professor Praxedes de Menezes", vivido por Juca de Oliveira, era uma figura, daquelas que você só deve encontrar hoje em dia na redação da Tribuna da Imprensa ou do Jornal do Commercio, no Rio. Editor-chefe da Gazeta de Tubiacanga, que pertence ao Sinhozinho Malta (Lima Duarte), que nesta novela atende pelo nome de Major Bentes, seu apego à norma culta é tão grande, que um dos seus filhos, o Bruno de Luca, se chama Uilson. Sim, começando com "u". É também diretor do Liceu. Como também acontece na vida real de todo jornalista experiente e tido como culto/experiente, se sente ameaçado pela chegada de alguém de fora mais jovem, bonito e com conhecimentos mais modernos do que os seus, no caso, o Edson Celulari, ou Raimundo Flamel, que se apresenta como químico, mas, na verdade, está mais para alquimista.

Chico Mota: Uma das últimas representações decentes de que se tem notícia (sacou? Sacou?) de um repórter e do jornalismo contemporâneo em telenovelas, foi em Andando nas Nuvens (1999), uma pouco lembrada novela das 19h, numa atuação de Marcos Palmeira, já acostumado a amassar cacau em Renascer (1993). Talvez, heróico demais, mas jornalista tem mesmo essa mania de achar que vai salvar o mundo. Única divergência da vida real para o personagem do Marcos Palmeira é que, na novela, o jornalista é o bonitão da história. Ajudou o fato de o enredo girar em torno de um jornal, o já conhecido Correio Carioca, concorrente do Diário de Notícias, que circula em todas as outras novelas da Globo, quando querem mostrar jornalistas como eles realmente são, sem comprometer a obra da casa, O Globo. Também contribuiu para a trama: ter outros bons atores, do naipe de Hugo Carvana, experiente jornalista de novelas. Dali para frente, a qualidade da representação dos jornalistas em folhetins foi ladeira abaixo (com alguns solavancos).

Júlia (não Hannah) Montana: Personagem da Débora Bloch em Andando nas Nuvens, concorrente e par romântico do Chico Mota, foi bastante fiel à realidade ao mostrar que jornalistas adoram namorar e casar com jornalistas, porque não basta errar uma vez, e pobreza chama pobreza. No caso, a personagem era herdeira do jornal, o que no mundo real a transformaria em chefe mesmo sem nunca ter pisado numa redação. Mas, justiça seja feita, é bem verdade que jornalista quer comer o outro (em vários sentidos) mesmo trabalhando para o mesmo veículo. Como brasileiro adora imitar tudo o que vê na televisão, a personagem ajudou a lançar a moda da bolsa com alça atravessada na frente do corpo, que toda jornalista carioca ou da Folha (ou que quisesse ser uma dessas coisas) já usou alguma vez na vida. (O uso de óculos de aro grosso permanece sem explicação até hoje.)

É sempre bom lembrar que Júlia Montana começou carreira como a impagável Adelaide Catarina, da TV Pirata, império da mídia que tinha ainda entre as suas publicações a revista mensal de artesanato Faça Feio.

Entendeu ou quer que eu desenhe?
Renato Mendes: Protótipo do jornalista/empresário mau-caráter, de Celebridade (2003-2004), que girava em torno do mundo (e do jornalismo) de celebridades, o editor da revista Fama imortalizou o gentil bordão "entendeu ou quer que eu desenhe?", que muitos repórteres têm vontade de falar para seus editores quando estes não entendem que a pauta caiu, ou que o personagem não se encaixa exatamente no perfil que ele tinha planejado. Rico, portanto, inverossímil.

Lineu Vasconcelos: Fruto de uma longa e dedicada carreira como jornalista em novelas e seriados, e um dos mais convincentes na especialidade, Hugo Carvana (que começou a carreira como repórter policial em Plantão de Polícia, cargo do qual foi promovido a chefe de redação em Andando nas Nuvens) conseguiu, enfim, se tornar dono de um grande império de mídia, em Celebridade, o Grupo Vasconcelos. Mas, como jornalista não nasceu para ter sorte mesmo, seu personagem é assassinado, dando motivação ao bordão "quem matou Lineu Vasconcelos?".

Zé Bob: Canastrão de A Favorita (2008-2009) desde o nome do personagem, como qualquer personagem do Carmo Dalla Vecchia, passando pelo cabelo e pela jaqueta de couro. Visto poucas vezes com gravador ou com bloquinho na mão e nunca dava retorno para a chefia na redação do Jornal Paulistano. Como todo jornalista de novela, se envolve pessoalmente com as fontes, passa mais tempo preocupado com a sua própria vida do que com a do jornal, além de ser o galã da história e ter um carrão. Portanto, com certeza, inverossímil. Ou o carro era jabá de alguma montadora (sendo novela, o nome técnico é "merchandising"). Só a barba cuidadosamente "por fazer" e os mullets no cabelo davam algum tom de veracidade ao personagem.

Maíra: Fazia "dupla de repórter" com Zé Bob em A Favorita, portanto, uma figura que não existe na vida real das redações, o que mostra que, para escritor de novela, jornal e agência de publicidade são a mesma coisa. Ao morrer na novela, assassinada pela cruel Flora, provou a tese de que atores e diretores de novelas usam novelas para se vingar de jornalistas. Depois disso, Juliana Paes concluiu que era melhor ganhar a vida dançando e imitando cara de indiana em Caminho das Índias.

Bruno: Ninguém se lembra do fotógrafo da pouco vista Viver a Vida (2009-2010). Deve ser porque ele não trabalhava muito, ou porque era o Thiago Lacerda mais uma vez fazendo o mesmo papel de sempre em sua carreira, o de ele mesmo, seja médico, jornalista ou açougueiro. Além disso, tinha um vidão: viajava pelo mundo e fotografava quando queria. Definitivamente, não parecia jornalista.

Diana: Pior personagem já interpretado por Carolina Dieckmann (e olha que a concorrência foi dura), vivida em Passione (2010-2011). Ajudou a desmoralizar e envergonhar de vez a classe, ao conseguir emprego de assessora de imprensa na empresa da família do namorado (por indicação do próprio, claro) e falar frases como "já recolhi todo o material de que eu precisava para a matéria", parecendo mais que trabalhava em laboratório de análises clínicas. A atriz mostrou que tinha feito seu trabalho de pesquisa ao chamar jornalistas de pobres, no seu Twitter, antes de estrear na novela. Talvez, a morte mais comemorada da história da TV brasileira. Fora tudo isso, não disfarçava o sotaque carioca para dizer que era do interior de São Paulo, mas que fazia pós na "úshpi".

Kléber Damasceno: Um dos jornalistas mais talentosos e convincentes que já apareceram na telenovela brasileira, já que estava sempre duro e desempregado, perseguia as injustiças de todos os níveis e tinha como alvo principal o banqueiro bandido da novela. Representado por Cássio Gabus Mendes, provavelmente para se vingar de todas as traições que sofreu da Maria de Fátima em Vale Tudo. (A morte de Norma/Glória Pires nesta novela é mal explicada até hoje...) Em compensação, era machista, viciado em jogo, homofóbico e grosso à beça. Enfim, representou a nata do jornalismo brasileiro, em Insensato Coração (2010-2011). Como todo bom jornalista contemporâneo, acabou a vida fazendo um blog.

Marcela: Essa é comprovação cabal de que diretores e escritores de novela odeiam mesmo jornalistas. Protótipo da repórter periguete, chantagista, mau-caráter, ameaçou até a escolada Carolina Dieckmann (já safa nessa vida de jornalista de novela e de celebridade), em Fina Estampa (2011-2012). Na vida real, duvido que exista uma jornalista freelance tão abusada e metida assim, tendo que dar nota fiscal no fim do mês para receber como PJ. Aliás, não ficou claro se ela tinha empresa ou se comprava nota. Típica jornalista de novela: nunca trabalhava e só ficava azucrinando a vida dos outros. Acabou sendo morta pela personagem doida da Christiane Torloni, como fruto de suas chantagens, bebê. (Outra morte comemorada, se é que ela morreu mesmo, pois vaso ruim não quebra nem em novela. Pensando bem, até que a Globo é legal com a classe jornalística matando, ou tentando matar, as jornalistas toscas.)

Solange: O futuro do jornalismo brasileiro, ou pelo menos do jornalismo de novela brasileiro, a funkeira Sol, estudante do excelente ensino público municipal do Rio de Janeiro (ou melhor ainda, da Barra da Tijuca) em Fina Estampa, recebeu o conselho de procurar uma coisa mais fácil, tipo Jornalismo, do seu próprio namoradinho, Daniel, que cursa o primeiro ano de Medicina de Novela e, por isso mesmo, já se acha.

A má representação de jornalistas em novela faz até os outros personagens desrespeitarem a profissão (além de não fazerem ideia de como as coisas funcionam). O muito bem interpretado Antenor, na mesma Fina Estampa (obrigado, Aguinaldo Silva), ligou para o Diário de Notícias e o seguinte diálogo (?) se sucedeu: "eu queria falar com O repórter. Como para quê?! Para dar um furo de reportagem". Como se dissesse: "alô, é do açougue? Quero falar com o açougueiro. Como para quê? Para comprar picanha, ora". Ah, se o povo do Prêmio Esso descobre como as grandes reportagens chegam aos jornais... E o jornalista convocado ainda garantiu: "sou repórter, estou acostumado, sou rápido no gatilho". Tudo bem que tem coleguinha arrogante, mas, com essa autoestima toda, é difícil de acreditar.

O brilhante, pretensioso e polivalente jornalista, concorrendo em
qualidade da atuação com os lutadores Minotauro e Minotouro
Beto Júnior: Tal como na vida real, sua importância para a trama é tão grande, que seu personagem, com nome de locutor de rádio do interior, nem aparece na lista de elenco oficial de Fina Estampa, nem mesmo abaixo das crianças ou de personagens desconhecidos (eita, novelinha cabide de emprego). Retrato dos novos tempos de "sinergias" nas redações, o personagem interpretado por Danilo Sacramento (tive que dar um Google) cobre de um tudo no Diário de Notícias: entrou no folhetim como "o repórter" investigativo convocado por Antenor, mas também é setorista de esportes. Ou foi remanejado pelo aquário do jornal, após ter feito um grande estardalhaço e vendido como grande furo alguma bobagem que a personagem da Christiane Torloni fez no passado. Terminou a novela cobrindo luta de MMA, vulgo vale-tudo. É também a prova de que Aguinaldo Silva hoje odeia jornalistas, pois é a terceira menção de caráter negativo à categoria na mesma novela.

Miriam: Tudo bem, eu também só lembrei desta personagem porque estava dando um Google procurando outros jornalistas de novelas. Iniciando sua carreira em novelas, qual o primeiro emprego que arrumam para a atriz Letícia Persiles? De jornalista, em Amor Eterno Amor, novela das seis (é por isso que você não assistiu) que passou em 2012. Ou seja, agora que não precisa mais de diploma (valeu, Gilmar Mendes!), qualquer um pode exercer a profissão, inclusive aquela sobrinha do dono do jornal que não tem experiência de vida nem como balconista de loja. Como sempre acontece com os jornalistas de folhetins, mistura vidas pessoal e profissional, e se envolve com as fontes e suas histórias. Como acontece na vida real, tira as pautas de onde? Da sua vida pessoal. E, logo nesta estreia, ela tem a oportunidade de atuar ao lado de dois grandes atores da TV brasileira (só que não), Carmo Dalla Vecchia e Gabriel Braga Nunes, que, de tão bons, fazem sempre o mesmo papel: deles mesmos. Como também acontece na vida real, quem se envolve com a jornalista termina maluco, num hospício, e ela usa explicações em outras vidas para justificar os ocorridos e as burradas em sua vida, como a de escolher ser jornalista.

Scarlet Benson e Barbara Field: Com o pleno emprego alcançado entre jornalistas na teledramaturgia brasileira, o jeito foi começar a importar profissionais para os papéis em Cheias de Charme (2012), para poder queimar a categoria agora internacionalmente, já que a prática de trocar o próprio corpo por uma entrevista continua valendo quando entra em cena Scarlet Benson (Christine Fernandes, com nacionalidades americana e brasileira), claramente inspirada na absurda atriz americana Scarlett Johansson, para seduzir o sósia do astro brega Fabian. Outra "jornalista estrangeira" que veio pedir ajuda no Projac foi Barbara Field, que vem ao Brasil exclusivamente para entrevistar as Empreguetes e ajudar a lançar a carreira internacional delas (que resultaria na Isabelle Drummond falando com sotaque gringo em Geração Brasil).

Carlos Guerra: Embora ambientada no início do século XX, poucas novelas retrataram tão bem a realidade do profissional de jornalismo quanto Lado a Lado (2012-2013). Sempre reclamando e sofrendo com a falta de dinheiro, para ele e para o seu jornal, o Correio da República. Logicamente, Guerra também tem dificuldades de relacionamento, tentando se manter como solteiro convicto e boêmio mesmo após os 40 anos. Mostra como empresas jornalísticas sempre foram mal administradas no Brasil, condição que também acaba entrando para o folclore da profissão.

Antônio Ferreira e Paulo Lima: Pseudônimos de Edgar Vieira (Thiago Fragoso) e Laura Assunção (Marjorie Estiano), mostram como a vida do jornalista sempre foi difícil, tendo que recorrer a frilas, pseudônimos e trocas de sexo para sobreviver. Forma também de redimir os homens, fazendo lembrar da época em que eles não eram minoria na profissão.

Sueli Pedrosa: Jornalista de fofocas inescrupulosa, maledicente e multimídia (faz blog, TV, impresso etc.) que começou carreira em Ti-Ti-Ti Reloaded (2010-2011), e acabou arrumando um frila fixo para cobrir as celebridades também em Sangue Bom (2013). É tipo o Mestre dos Magos do jornalismo: aparece onde menos se espera e sempre com um link ao vivo, por mais banal que seja o assunto (tipo o fim da garrafa de xampu usado pela celebridade B), contribuindo para o desrespeito contra a profissão, com todo um repertório de puxação de saco alternado com calúnias a respeito de quem quer que seja. Seu fiel escudeiro é o paparazzo Zito, que, de forma bastante verossímil, costuma apanhar das subcelebridades que fotografa, quando as fotos espontâneas não são combinadas e ensaiadas previamente.

Garota do Barata: Personagem bem próxima da vida real, Verônica Monteiro é uma jornalista desempregada em Geração Brasil (2014), que acaba fazendo bico de garota-propaganda e nunca mais consegue um emprego decente na vida, por ficar marcada por um trabalho constrangedor. O jeito é pegar um frila fixo (que dura a novela inteira), abrir empresa e emitir nota fiscal para poder receber. Como jornalismo não dá futuro a ninguém mesmo, melhor se envolver sexualmente com a fonte (como também acontece na realidade), porque conflito de interesse pouco é bobagem.

Edna Bentes: Jornalista, amiga e conselheira da nossa heroína em Geração Brasil. Não tem dinheiro para pagar aluguel ou um financiamento da Caixa e, por isso, mora de favor com a amiga. Até aí, tudo igual à vida real, inclusive o fato de ela nunca aparecer trabalhando. O problema é que ela é muito fiel à Garota do Barata, mesmo após a Taís Araújo ter lhe dado uma rasteira e roubado a que poderia ser a pauta da sua vida.

Téo Pereira: Depois de ser perseguido na ditadura, tentar a vida como microempresário, em Mauá, o capitão Lamarca decide ter uma vida mais tranquila (e pobre) e virar jornalista de fofocas em Império (2014). Seu principal objetivo é tirar do armário o namorado da juventude, um organizador de festas, o que não daria muita audiência na vida real, mas, como é o Paulo Betti, a gente não se importa. Personagem adequado aos novos tempos do jornalismo, de blogs, redes sociais, fim das redações, trabalho feito de qualquer lugar (ou seja, de casa mesmo) e jornalistas chamados de "blogueiros", que publicam qualquer bobagem com a praticidade, velocidade e falta de responsabilidade da internet, e só se preocupam em criar sucessos de audiência instantâneos (que são esquecidos da mesma forma), "viralizando" seus posts, mesmo que tenham que (ou especialmente se tiverem que) difamar os outros para isso, e os profissionais de comunicação já desistiram dessa coisa de ganhar dinheiro e se alimentam apenas de cliques. Qualquer semelhança ou rima do primeiro nome do personagem com algum jornalista de fofocas da vida real será mera coincidência. Entra também na cota de personagens gays escandalosos das novelas de Aguinaldo Silva.

Érika: Pau-mandado e única repórter do inescrupuloso Téo Pereira, em Império. Sua característica profissional mais marcante são os óculos de aro grosso de repórter da Folha de S.Paulo. Como toda subordinada, sempre tenta demover seu chefe das roubadas e péssimas pautas em que ele tenta colocá-la, sem sucesso, claro, tudo em nome da audiência.

Mário Sérgio: Tem nome de jornalista, e trabalha na redação inchada do Diário de Notícias, que também circula em Império. Não contribui para a fama da categoria pelos seus métodos de apuração, que incluem ouvir conversas atrás da porta, ficar ofendido quando dizem que ele é chato e mandar o fotógrafo perseguir um catador de latinhas, no melhor estilo chefe de milícia. Mas ajuda a devolver a fama merecida ao nosso Bacana, de Armação Ilimitada (da foto lá de cima, lembra?).

Jornalistas figurantes: Mais uma "homenagem" de Aguinaldo Silva, em Império, à categoria. Como se já não fosse absurdo (e o festival do pleno emprego) ter tantos jornalistas para cobrir um assunto irrelevante como o divórcio de uma ex-rainha de bateria de escola de samba, eles mudam de pauta como quem vira a página do bloquinho, quando aparece uma louca gritando uma outra fofoca no meio da rua. Como se o normal, na vida real, não fosse o reportariado todo rir da doida, virar de costas e ir embora. Ou, quando muito, ligar para a redação, e o editor/pauteiro não dar a mínima para a história nova e te mandar de volta para a redação.

Outros posts jornalísticos:
Jornalismo, ano 2035
Como jornais, sites, revistas e a TV noticiarão o fim do mundo
Ser jornalista de economia é...
Eu tô no jornal ("Então, é Natal" para jornalistas)
Jornalismo como ele é
Máximas e mínimas do jornalismo
Dia de Jornalista
Manchetes de Carnaval
Capas de fim de ano: o que querem realmente dizer
Ai se eu escrevo: Michel Teló para Jornalistas
Diálogos que adoraríamos ver na TV

Mais sobre novelas:
Álbum de Figurinhas Avenida Brasil
Eduardo Paes desativa Lixão de Gramacho por maus-tratos a Rita e faz novela mudar de fase
Ronaldinho é novo contratado do Divino FC
Nina ensina como se dar bem na carreira
Carminha declara apoio a Haddad

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O Brasil de Marina

Nova residência oficial
Já que existem chances de a Marina Silva realmente ganhar as eleições, segue aqui uma lista de como serão algumas coisas com ela no poder.

1. A residência oficial passará a ser chamada de Marina Palace (e, talvez, mude para o Leblon).
2. Para vivermos a democracia direta na sua plenitude, serão convocadas novas eleições a cada vez que a presidente for viajar para o exterior, para decidir se ela deve pedir "frango ou massa" quando a aeromoça perguntar.
3. Os gringos acharão que o Lula voltou a governar o Brasil, pois os jornais estrangeiros irão se referir a ela como "Silva", assim como faziam com o Luiz Inácio.
4. O João Moreira Salles vai fazer um filme sobre a campanha que levou à eleição de Marina, com imagens emocionantes de Eduardo Campos durante a campanha.
5. O filme vai ser patrocinado pelo Itaú, mas é só porque o Unibanco não existe mais.
6. Fábio Barreto fará um filme chamado "Osmarina, a filha do Acre".
7. Eduardo Coutinho, se estivesse vivo, faria um documentário chamado "Seringueiros".
8. Teremos pelo menos três entrevistas coletivas ao dia, para dizer como o plano de governo é programático. Nenhum jornalista poderá reclamar que a presidente não fala com a imprensa.
9. Chega de governar por emendas constitucionais! Com Marina no comando, haverá apenas "erratas à Constituição".
10. Teremos um programa de governo vivo, ou seja, que mudará de ideias e de direção a cada dia. Porque esse papo de cláusula pétrea é coisa das classes dominantes que governam este país há 500 anos.

Mais notícias e política:
Igreja católica pública errata da Bíblia
Sempre é hora para tirar uma selfie
Toda hora é hora para um selfie bacana
Somos todos coxinhas
Só não vê quem não quer
Fifa contrata Liesa para organizar Copa
Anões diplomáticos: hoje, no Globo Repórter