quarta-feira, 22 de maio de 2013

Amor à Crase

Vejam como eu fiquei linda nessa fantasia que é um misto de um coração
com uma folha que cai. (Me veja atuando, no vídeo aqui.)

"Olá. Eu sou a crase. Estou muito emocionada de estrear na televisão assim, em horário nobre, especialmente vindo depois de uma novela que sempre ignorou a vírgula. Quem acompanha a minha carreira desde a infância na escola sabe o tanto que eu já fui relegada ao esquecimento, mesmo em frases que perdiam totalmente o sentido sem a minha presença.

Sem mim, a vida ficaria completamente sem nexo (pelo menos, no título da novela), ninguém no Brasil iria à Europa, nem a outros lugares menos nobres e mais ofensivos. Sem mim, ninguém sequer comeria espaguete à bolonhesa, fettuccine à carbonara, ou mesmo arroz à grega. E ninguém aguenta passar a vida toda comendo bife a cavalo ou frango a passarinho.

Muito antes de se falar em casamento entre pessoas do mesmo gênero, eu já estava lá, promovendo a união entre duas letras 'a', uma como preposição e a segunda como artigo bastante definido e feminino, ou pronome relativo/demonstrativo. A regra é clara, como ensinou a professora do falecido Primeiro Grau: 'Se vou a e venho da, é preciso crasear. Se vou a e venho de, crasear para quê?'.

Importante esclarecer, desde já, que não fui eu que escolhi a música tema que sempre toca nas cenas em que eu apareço, no começo e no fim dos capítulos. Tal como o Ronaldo, eu sou um fenômeno, e não um acento, embora muita gente boa faça essa confusão, grave como o sinal gráfico que me representa. (A propósito, Feliciano não me representa.)

É uma honra, em tempos de reforma ortográfica, virar celebridade, e assim evitar a extinção como a que ocorreu com o trema. Diferente do que muitos diziam, ele era representante do gênero masculino, e, tal como eu, ele só queria ser usado. Espero não ser julgada por isso pelos críticos mais agudos, apesar dessa minha posição sempre contrária à deles.

À nossa,
Crase"

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